sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Distúrbios de Comunicação

A American Speech-Language-Hearing Association definiu distúrbios de comunicação como “deficiências na articulação, na linguagem, na voz ou na fluência. A deficiência auditiva pode ser classificada como um distúrbio de comunicação quando impede o desenvolvimento, desempenho ou maturação da articulação, linguagem, voz ou fluência”.

1. Distúrbios de Comunicação:

1.1. Articulação
1.2. Fluência
1.3. Alterações da voz
1.4. Distúrbios da linguagem
1.5. Alterações da articulação
1.6. Alterações da fluência verbal: Gaguez
  

1.1. Articulação
Esses distúrbios de origem funcional têm sido atribuídos a várias influências, incluindo ambiente de privação, persistência infantil, bilinguismo, problemas emocionais ou amadurecimento lento. Embora os problemas da fala obviamente envolvam uma expressão incorrecta do som, a causa pode muito bem ser um problema de recepção auditiva. Se a criança não ouve sons, não será capaz de pronunciá-los correctamente.
Os estudos realizados mostram que mais de metade dos alunos manifestam desvios ou distúrbios articulatórios. A má articulação é particularmente comum entre as crianças pequenas e frequentemente passa despercebida, pois é esperada. Em situações mais graves deve-se solicitar o acompanhamento de um terapeuta em cooperação com o professor e os pais.

1.2. Fluência [1] Nos distúrbios da fala existentes, a gaguez é o distúrbio mais identificado. É um problema perturbador, tanto para a pessoa que fala como para a que ouve. Ocorre quando o fluxo da fala é interrompido de modo anormal por repetições ou prolongamentos de um som ou sílaba e é marcado por comportamentos de evasão.

1.3. Alterações da voz  [1] A voz humana pode variar quanto à intensidade, altura e qualidade. A criança cujo tom de voz é muito alto, cuja voz  é rouca a ponto de irritar o ouvinte, ou tão baixa, a ponto de o ouvinte precisar fazer esforços para ouvi-la, tem problemas sociais e de comunicação.
Embora relativamente raro ( cerca de duas mil crianças), os distúrbios de voz criam grandes problemas de ajustamento, e o terapeuta da fala e da linguagem tem um papel fundamental.
São três os componentes básicos dos distúrbios da voz, a qualidade, intensidade e sonoridade. A voz é a produção do som na laringe e a transmissão selectiva do som incluindo a sua ressonância e sonoridade. A voz é produzida pela corrente de ar que sai, passando entre as cordas vocais e laringe. Da laringe, o som viaja para cima através de várias cavidades do trato vocal, como a garganta, boca e nariz. As alterações da voz são relativamente frequentes na idade escolar, afectando (Dinville, 1983) metade das crianças dos 5/6 anos até à puberdade. Muitas vezes as alterações da voz são devidas ao seu uso inadequado quer por excessos ou por defeitos da sua emissão. Entre as causas que podem gerar estas alterações, podemos assinalar as bronquites crónicas, asma, laringites, etc. Por vezes têm etiologia traumática (acidentes ou sustos) ou ambiental (ruídos ou barulho). Outras vezes têm causa orgânica (mal formações, inflamações , etc). Podemos dividi-las em  Disfonia: É uma alteração da voz devida a uma perturbação orgânica ou a uma incorrecta utilização da voz; e  Afonia: É a ausência total de voz, embora temporariamente.

1.4. Distúrbios da linguagem [1] Distinguem-se dois distúrbios principais da linguagem: afasia e atraso de linguagem. A afasia é a deficiência na compreensão ou formulação de mensagens, devido a lesões ou disfunções no sistema nervoso central. O atraso de linguagem manifesta-se em deficiências de vocabulário ou gramaticais, que impedem que a criança se expresse tão bem como os seus colegas.

1.5. Alterações da articulação [1]

1.5.1. Dislalias São perturbações na articulação de um ou vários fonemas, por substituição, omissão, acrescentamento ou distorção dos mesmos.
Segundo a classificação etiológica de Pascual (1988) existem quatro tipos de dislalias.
1º Dislalia evolutiva: o conjunto dos órgãos que intervém na articulação precisam de suficiente maturação neuromotora para pronunciar correctamente os diferentes fonemas. Nos primeiros anos de vida as crianças não são capazes de articular correctamente alguns fonemas devido à etapa de desenvolvimento linguistico que se encontram. Este tipo de dislalia, costuma desaparecer com o tempo sem apresentar problemas de maior.
2º Dislalia Auditiva: a criança que não houve bem não consegue articular correctamente os fonemas e a deficiência auditiva está na origem da dislalia auditiva, embora as crianças com graves défices auditivos apresentem ainda outras alterações da linguagem.
3º Dislalia orgânica: as perturbações da articulação,  cuja etiologia é devida a mal formações dos órgãos da fala (lábios, língua, palato, etc), são conhecidas por disglosias.
4º Dislalia funcional: consiste numa alteração devida ao mau funcionamento  dos órgãos articulatórios, sem que exista qualquer causa orgânica. Entre os factores que podem originar este tipo de alteração, podemos referir o insuficiente controlo psicomotor, deficiência intelectual, perturbações espaço-temporais e qualquer factor relacionado com o meio envolvente à criança.

1.5.2 Disglosias São perturbações na articulação dos fonemas devido a lesões físicas ou mal formações dos órgãos periféricos da fala. As causas podem ser diversas (Parelló, 1990), consoante o órgão afectado assim podemos falar de: a)      Disglosias labiais: lábio leporino, freio labial superior, paralisia facial, feridas labiais, etc.; b)      Disglosias mandibulares: hereditariedade; c)      Disglosias dentais: próteses; d)     Disglosias linguais: macroglosia e paralisia da língua.; e)      Disglosias do palato: fenda palatina, palato em ogiva, perfurações palatinas, palato curto, etc.   

1.5.3. Disartrias São perturbações da articulação e da palavra devido a lesões, que afectam a articulação de todos os fonemas em cuja emissão intervém a zona lesionada. O caso mais grave é a anartria ou incapacidade para articular os fonemas das palavras. Podemos distinguir: -disartria flácida, que se localiza a nível do neurónio motor inferior; -disartria espástica, que se localiza no centro do neurónio motor superior, cuja as alterações são alterações emocionais, lentidão da fala, alterações respiratórias; -disartria atáxica, que se localiza no cerebelo. As suas principais manifestações serão os movimentos imprecisos, alterações da marcha e do equilíbrio, fonemas prolongados; -disartria hipocinética, a lesão situa-se no sistema extrapiramidal, manifestando-se por movimentos lentos e a nível linguístico a fonação e a prosódia; -disartria hipercinética, localiza-se no sistema extrapiramidal, apresentando movimentos involuntários e evidentes alterações linguísticas a nível da fonação, ressonância, prosódia e articulação.

1.6. Alterações da fluência verbal: Gaguez [1] e [3] A gaguez é um distúrbio de comunicação que se traduz por uma desarticulação entre o pensamento e a linguagem. É caracterizada por interrupções involuntárias na fluência verbal, sob forma de prolongamentos, hesitações ou repetições na vocalização de certos sons, sílabas ou palavras. Paralelamente a estas interrupções involuntárias surgem frequentemente alterações no suporte respiratório e uma coordenação anómala dos grupos musculares envolvidos na produção da fala.
A gaguez começa geralmente na infância em 90% dos casos antes dos 8 anos. Afecta entre 1 a 3% da população adulta. Cerca de metade das crianças em que a gaguez persiste até aos 5 anos (pode começar entre os 2 e 4 anos), continuam a gaguejar quando adultos.
Curiosamente o problema é mais comum, nos rapazes, gémeos e canhotos. Em 70% dos canhotos é o hemisfério esquerdo que controla a linguagem como se processa em todos os dextros. Mas em 15% dos canhotos é a metade direita do cérebro que controla a fala. Nos restantes 15% ela é controlada por ambos os hemisférios.
É também vulgar a gaguez fazer parte de crianças, filhos de gagos ou de grande convívio com pessoas com essa perturbação na fala. Por imitação assimilam essa característica. Corrigir em críticas negativas, uma criança que gagueja pode produzir mais tarde o sintoma neurótico da gaguez involuntária e dolorosa. O castigo, o troçar, o ralhar só pode contribuir para reforçar a sua insegurança: gagueja então com medo de gaguejar. Há portanto várias causas possíveis para a dislalia ou gaguez, além de algumas já mencionadas, há a considerar também um choque emocional ou uma experiência traumática negativa na infância; atrasos nos processos cerebrais de entendimento do que foi ouvido; desenvolvimento lento da coordenação da língua, palato e lábios. A psicanalista Nicole Fabre afirma que a gaguez é mais do que tudo "um sintoma que traduz um conflito intrapsíquico, o qual sem ser exprimido fica no fundo da garganta com as palavras que não conseguem sair". Esta psicanalista vê nesta perturbação da fala a expressão dum problema inconsciente e recalcado.
Outros males se podem associar à dislalia: crispação (ao nível dos lábios, da língua, da laringe e até do peito), palidez, transpiração excessiva, rubor intenso, tremores e muitas vezes tiques. Todos eles devem ser tratados o mais rapidamente possível, dado que a criança tem mais possibilidades de se curar que o adolescente ou adulto. A criança gaga possui geralmente uma inteligência normal, mas é acima de tudo um ser hiper-emotivo. Perturbado muitas vezes por uma imaturidade afectiva manifesta-se muito dependente da mãe. Revela-se instável, turbulento, irritável ou ainda fechado sobre si mesmo sem confiança nas suas possibilidades. É sempre um ser ansioso e manifesta por vezes a sua ansiedade por explosões de choros ou risos injustificados e distúrbios somáticos: sono perturbado, enurese (urinar na cama até uma idade de 2ª infância e mais), onicofagia (roer as unhas desenfreadamente) e pode continuar a chuchar no polegar depois dos cinco anos. Qualquer tensão aumenta a sua gaguez.
É curioso saber-se que Jean-Jacques Rousseau, Clemenceau, Louis Jouvet, eram gagos todos estes homens ilustres. Também Demóstenes, o maior orador ateniense, o qual para corrigir a sua gaguez, declamava longas tiradas com a boca cheia de pedrinhas e discursava diante das ondas do mar para se habituar ao barulho das multidões. Eis porque a psicanalista Nicole Fabre escreveu um livro intitulado "Des cailloux plein la bouche". Resultam temporariamente estes primitivos tratamentos, mas era o que se conhecia na época.
Apresentam-se, de seguida alguns indivíduos que ultrapassaram a deficiência em questão: Moisés, Newton, Marilyn Monroe, etc.

Elaborado por Tânia Andrade e Alexandra Ribeiro.

Fotes
[1] –Ruiz, José Rámon; Ortega, José Luis; As Perturbações da linguagem, NEE, capítulo IV , Dinalivro, 1997.
[3] –Apontamentos da professora Margarida Paiva (UPT)


[1]
Cerca de 70 a 80 por cento dos problemas de comunicação encontrados nas escolas públicas enquadram-se nessa categoria. As crianças substituem um fonema por outro, ou omitem ou distorcem-no. Essas dificuldades podem ocorrer na área dos articuladores quando a interacção da língua, lábios, dentes, maxilares e palato é imperfeita. A cavidade oral é modificada pelo movimento dos maxilares, lábios e língua, produzindo os vários sons da fala.

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