quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Perturbações da Linguagem Verbal

 [1] A linguagem verbal é o modo de comunicação e representação mais utilizado, embora a comunicação seja possível sem esta forma de linguagem. A comunicação não se limita à linguagem verbal (falada/escrita), pode utilizar qualquer um dos nossos sentidos. Contudo, a linguagem verbal é o instrumento ou meio de comunicação e representação por excelência. Através da comunicação, da linguagem, os indivíduos expressam sentimentos, ideias, pensamentos... mas, ao mesmo tempo, podem captar as mensagens produzidas pelos outros. O principal sentido da comunicação/linguagem consistirá em facilitar as relações do indivíduo com o seu meio envolvente.
Para que a linguagem sirva de instrumento de comunicação, é necessário um emissor/receptor que, utilizando um código comummente aceite, envie uma mensagem a um receptor/emissor através de um meio ou canal de comunicação num determinado contexto.
A linguagem verbal aparece como alvo intrínseco no ser humano e inseparável da comunicação, cumprindo diversas funções. Rondal e Bredart (1991), tomaram como referência as funções (instrumental, reguladora, interactiva, pessoal, heurística, imaginativa, criativa e informativa) que Halliday (1982) estabeleceu como básicas na linguagem.
Mas a aquisição e desenvolvimento da linguagem implica, aprender a combinar fonemas, palavras e frases em sequências compreensíveis para os outros, conhecer e compartilhar, os significados elaborados socioculturalmente por uma determinada comunidade linguística e saber utilizar correctamente as regras gramaticais que estruturam as relações forma-função da linguagem.
Em consequência, a complexa actividade da linguagem pode ser alterada por razões diversas (ausência de código comum, deficiências de articulação, alterações da mensagem, etc), dado o conjunto de órgãos que intervêm na produção e compreensão verbal, porque a articulação da fala humana é um processo que põe em funcionamento cerca de uma centena de músculos e um sistema nervoso complexo que deve controlar e sincronizar esses músculos .
A evolução da linguagem infantil deve ser entendida como um processo integrado pelo que se torna difícil estabelecer momentos claramente diferenciados. No entanto existem fases ou estádios do desenvolvimento linguístico infantil desde o primeiro mês da criança.

Idade
Evolução da Linguagem
Do 1º ao 2º mês
Emissão de sons guturais. Sorriso social. Choro com intenção comunicativa. Vocalizações.
Do 3º ao 4º mês
Emissão de sons vocábulos e consonânticos. Palreios. Idade de balbuciar.
Do 5º ao 6º mês
Idade do laleio. Escuta e brinca com os seus próprios sons e tenta imitar os sons emitidos pelos outros.
Do 7º ao 8º mês
Enriquecimento da linguagem infantil. Aparecimento das primeiras sílabas. Idade dos monossílabos.
Do 9º ao 10º mês
Primeiras palavras com sílabas duplas. Compreende a entoação das frases.
Do 11º ao 12º mês
Conhece algumas palavras. Compreende o significado de algumas frases habituais usadas no seu meio ambiente.
Do 12º ao 18º mês
Linguagem difícil de entender. Acompanha a fala com gestos e nomeia imagens. Compreende e responde a ordens simples.
Aos 2 anos
Utiliza a frase como se fosse uma oração. O seu vocabulário vai de 12 a algumas centenas de palavras.
Aos 3 anos
Linguagem compreensível para os outros. Começa a diferenciar tempos e modos verbais.
Aos 4 anos
Período florescente da linguagem. Joga com as palavras. Etapa do monólogo individual e colectivo.
Aos 5 anos
Importante evolução neuromotora. É capaz de estabelecer semelhanças e diferenças, noções espaciais, etc.
Dos 6 anos em diante
Leitura e escrita. Construção de estruturas sintácticas mais complexas. Evolui na conjugação verbal. Articula todos os fonemas nas palavras.

As desordens a nível da comunicação envolvem défices tanto a nível da linguagem como da fala. No entanto, um indivíduo que apresenta problemas a nível da fala regista dificuldades unicamente em termos de competências comunicativas, enquanto aquele que tem problemas no campo da linguagem regista dificuldades não só em termos de expressão de ideias mas também no que diz respeito à descodificação dos discursos produzidos por outros.
Os centros da fala estão localizados no hemisfério esquerdo do cérebro. No entanto, os investigadores descobriram que há um certo grau de bilaterismo entre os dois hemisférios. Assim, qualquer lesão causada no cérebro pode conduzir a problemas de fala. Desordens a nível da comunicação, como as que se verificam devido ao autismo, à paralisia cerebral, à deficiência mental, aos problemas de audição e à afasia, cuja origem é orgânica ou física.
As quatro componentes básicas da fala são a articulação, fonação, ressonância e ritmo. A primeira está relacionada com a capacidade de produzir sons específicos, enquanto a segunda corresponde à sua produção, isto é, à actualização da capacidade de articular. A ressonância diz respeito ao reforço e prolongamento de sons através da vibração. A velocidade e a regulação da fala definem o ritmo de produção oral.
Assim existem várias alterações da linguagem, nomeadamente em crianças com deficiência  mental, autistas, com deficiências motoras, etc. [2]
As realizações linguisticas de um indivíduo estão determinadas por múltiplas componentes que, de forma simplificada poderiam agrupar-se em:
[1] Variáveis exógenas e  Variáveis endógenas.
Ambas as componentes aparecem relacionadas com as diferentes capacidades humanas (cognitivas, afectivas, motoras, de relação interpessoal e inserção social).
O desenvolvimento integral dos indivíduos será facilitado ou alterado consoante essas variáveis forem positivas ou negativas. Segundo a American Speech-Language-Hearing Association, a deficiência da linguagem é : “ Um estado em que o indivíduo não demonstra conhecimento das necessidades do sistema linguístico proporcional à norma esperada. Tipicamente, uma criança é chamada deficiente da fala quando as suas habilidades de linguagem primária são deficientes em relação às expectativas para a sua idade cronológica”.


Elaborado por Tânia Andrade e Alexandra Ribeiro

Fotes
[1] –Ruiz, José Rámon; Ortega, José Luis; As Perturbações da linguagem, NEE, capítulo IV , Dinalivro, 1997.
[2] –Nielsen, Lee Brattland; Necessidades Educativas Especiais na sala de aula, um guia para professores, Colecção Educação Especial, volume 3 , Porto Editora, página 103.


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